sábado, 18 de outubro de 2008

Cães domésticos "selvagens"

Texto resumido, retirado da Revista Cães e Cia n° 353, de autoria de Alexandre Rossi.

"Como vivem os cães domésticos 'selvagens'?"

Existem diversos grupos de cães vivendo com pouquíssimo ou nenhum contato com humanos, em todos os continentes. Algumas matilhas vivem afastadas da civilização, outras vivem nos arredores de cidades ou vilas e alguns grupos vivem dentro das cidades.
São geneticamente idênticos aos cães que estamos acostumados, sem, no entanto, reconhecerem os humanos como parte do grupo.
Alguma dessas matilhas foram acompanhadas por pesquisadores interessados em entender as diferenças entre cães e lobos, e aprender mais sobre o processo de domesticação.
Se a sobrevivência desses cães persistir sem a interferência humana, com o tempo, provavelmente, as alterações genéticas os aproximarão dos Dingos, subespécie canina e selvagem que vive na Austrália.

Esses cães, como diversos outros animais selvagens, frequentam lixões e reviram o lixo das casas, geralmente a noite. São vistos, ainda, caçando pequenos animais, principalmente roedores, como ratos, e pequenas aves, como galinhas, pardais e pombas.
Diferente dos lobos, raramente caçam ou matam animais de grande porte. Quando isso acontece, costumam se especializar em animais domésticos, como bezerros, ovinos e caprinos, pois parecem não conseguir coordenar uma caçada como os lobos fazem.
Os dingos demonstram uma capacidade mais elaborada de caçar e cercar do que seus parentes domésticos, provavelmente por causa do longo período selvagem, sem ajuda humana, e voltaram a ter um comportamento semelhante ao lobo.

Numa matilha de lobos, só o casal dominante tem permissão para se reproduzir. Já num grupo de cães domésticos "selvagens", várias fêmeas acasalam e ficam prenhes. O resultado desse comportamento é a produção de um número de filhotes maior do que o grupo é capaz de cuidar, e para piorar, os machos raramente ajudam as fêmeas a cuidar da prole e protegê-la.
O cio das cadelas ocorre 2 vezes ao ano, enquanto o das lobas é anual. Esse fator dificulta o sucesso reprodutivo das matilhas, pois as fêmeas precisam dividir a atenção entre os filhotes recém nascidos e os que já tem de 4 a 6 meses, além de terem menos tempo para se recuperar dos desgastes do parto e da amamentação.
Nos países onde o frio é mais rigoroso, o cio adicional também prejudica a sobrevivência dos filhotes que nascem próximos ao inverno pois precisam enfrentar o frio intenso, enquanto os lobos nascem geralmente na primavera, quase 1 ano antes do proximo inverno.
O comportamento reprodutivo dos dingos é intermediário entre o dos lobos e dos cães domésticos "selvagens", o casal dominante permite que outros casais se formem, o grupo ajuda a cuidar dos filhotes e é provavel que o excesso de filhotes seja controlado pela prática de infanticídio, quando então a fêmea dominante mata todos os filhotes das demais.

Esses estudos deixam claro como os diversos comportamentos dos lobos são importantes para a sobrevivência deles. As alterações comportamentais que afastam os cães dos lobos criam situações que dificultam muito o sucesso reprodutivo e a propria sobrevivência.
O homem conseguiu transformar o lobo em cão, selecionando comportamentos e traços físicos, mas isso só foi possível porque ele garantiu artificialmente a sobrevivência dos animais que domesticou. Podemos dizer que, hoje, o cão é uma espécie dependente do homem para sobreviver.

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O texto foi resumido, ainda que tenham sido usadas muitas frases copiadas do original.
O sr. Alexandre Rossi, ainda, absteve-se de comentar do perigo que esses cães representam ao ser humano, por serem portadores de várias zoonoses e não terem vacinas ou controle populacional.

Vamos aqui, portanto, um caso grave de animais domesticados a séculos pelo homem que voltaram a um estado "semi-selvagem", e digo "semi", porque esses animais levam uma vida num habitat onde residem humanos, caso contrário sua subsistência em florestas faria com que eles sofressem bem mais, além de destruir a fauna local e competir espaço com os lobos (onde esses animais ainda existem).

O mesmo acontece com os demais animais domésticos, bois, cabras, porcos, galinhas, coelhos, cavalos e outros, todos acostumados a uma vida facilitada pelo ser humano, que fornece alimento e segurança a eles.
Libertar os animais não é uma solução, é, na verdade, a criação de outro problema, muito mais grave.

15 comentários:

Maurício Kanno disse...

olá, prezados.

na verdade os muitos cães e gatos soltos pelas ruas, sofrendo, etc., é um problema criado pela domesticação de animais.

a solução não é mesmo "libertá-los", mas castrar os que existem para que um dia essas espécies totalmente dependentes do ser humano tenham fim.

atenciosamente,
Maurício Kanno

leia mais a respeito em:
http://www.gato-negro.org/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=27

Cleise "Batata Frita" disse...

Mao,

Se lermos mais no site que você passou, você conversa civilizadamente, como propôs em outro texto, ou começa com a mesma baixaria na comunidade da picanha, no orkut?

Maurício Kanno disse...

1) [repetindo aqui minha resposta do outro comentario]

desculpe, poderia indicar o link da tal comunidade da picanha em que eu teria realizado "baixaria"? nao costumo usar linguagem inadequada, sequer conheco a referida comunidade, faz tempo q nao participo do orkut, e qdo o faco eh soh pra baixar episodios de series de tv...

2) aguardo seu retorno.

grande abraco,
mauricio (Animao, no orkut)

Xarope33 disse...

[vegan]Alguém pergunta pros animais se eles querem ser castrados? [/vegan]

Quando um veterinário faz inseminação artificial na vaca, chamam de estupro, mas quando castram um cão, chamam de "controle"...???

Campeão, hein??? ¬¬

Humano,demasiadamente_humano disse...

Xarope33, o erro original foi do homem ter domesticado o animal.
Quando tu participar for na Zoonoeses, ir num abrigo de animais ou ir numa vila de grande cidade, vais entender o porquê da castração.

Unknown disse...

Os animais domésticos contribuem para o bem estar humano. Seria um crime castrar essas espécies de modo a levar à sua extinção.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Não houve erro algum em ter domesticado os animais. Pelo contrário, os animais domésticos conseguem proporcionar às pessoas uma melhora na qualidade de vida.
Psicólogos, médicos e outros sabem da importância dos animais para melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Os cardíacos hospitalizados no Centro Médico da Universidade da Califórnia , em Los Angeles, submeteram-se ao “animal assisted-therapy”, o tratamento coadjuvado pela presença de um cão. No Congresso Anual da Associação Americana de Cardiologia ( AHA) , realizado nos E.U.A , colaboradores da enfermaria clínica , relataram que a presença de cães entre pessoas normaliza a pressão nos que estão sadios e reduz a pressão em hipertensos, tornando as pessoas felizes, calmas e fazem com que se sintam mais amadas.
A relação homem e animal doméstico é benéfica para ambos.
O que precisa é haver posse responsável.

Maurício Kanno disse...

andré, seus argumentos enfocam os benefícios especialmente para o ser humano. também é preciso levar em consideração o lado dos animais, que se tornam dependentes do ser humano e sua propriedade.

não se pode, desigualmente, focar só um dos lados. como vc coloca em "Os animais domésticos contribuem para o bem estar humano."

quanto à tal declaração da WSPA, é bem estarista e não de fato luta pela libertação dos animais do domínio humano. são princípios gerais, de todo modo, que devem ser discutidos mais a fundo, e não usados como dogmas.

Unknown disse...

Maurício, todos os animais tem direito à existência. Está explicitado na declaração universal dos direitos dos animais :
Art.1º - Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito à existência
Ou seja, ninguém tem o direito de exterminar nenhuma espécie.

Vejo pelos dois lados sim.
A convivência humano / animal doméstico é benéfica para ambos.
Sei que eles se tornam dependentes do ser humano para um lar e comida. No entanto, existem vantagens para o animal tais como um lar, comida, afeto. Para um animal, é mais importante do que tudo ter um lar que atenda às suas necessidades.

A domesticação é um fato. Irreversível. No mundo sempre existirão pessoas que não irão abdicar da companhia de um animal.
Não estarei sozinho nessa empreitada.

Como disse, para acabar com o sofrimento dos animais abandonados na rua é preciso ter posse responsável, as pessoas terem consciência do animal que compartilharão o lar, suas necessidades, etc.
Em suma, a pessoa tem de estar ciente sobre os deveres para com o animal.

O mundo é feito da diversidade. Tens o direito de ter a sua opnião e eu a minha.

Maurício Kanno disse...

oi, andré.

o grupo de estudos de direitos animais (GEDA) realizará no segundo semestre de 2009 um debate sobre domesticação. sempre com bibliografia indicada e mediação.

vc gostaria de participar? haverá pessoas de diferentes opiniões, inclusive um professor da USP que concorda com vc sobre a importância da domesticação.

de fato, o assunto é complexo e é importante analisar diferentes pontos de vista e estar aberto à mudança de opinião.

estamos ainda definindo as datas para o 2o semestre. por favor, me informe pelo grupogeda@gmail.com caso se interesse.

==

Veja e divulgue o cartaz do evento deste mês (sua presença seria mto importante, e caso queira te passo a bibliografia utilizada): http://gedasp.org/geda2009-03.pdf

Programação deste semestre e dados sobre o grupo: http://gedasp.org/programacao.pdf

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A presença dos animais domésticos na sociedade humana teve início desde a pré história.
E não foi feita de modo forçado. Os lobos começaram a se aproximar dos homens das cavernas em busca de alimento, os lobos observavam os homens assando carne na fogueira e se aproximavam por conta do cheiro do alimento. Os homens então os adotaram como parceiros. Daí então esses lobos domesticados passaram a ser parceiros de caça para o homem. Homem e lobo tinham um objetivo em comum : A Caça. Essa parceria aumentou significantemente a otimização da caça.
A vivência entre homem e cão foi facilitada devido ao comportamento social dos lobos de viver em alcatéia na qual cada membro tem tarefas definidas. Uns se encarregam da caça, outros de proteger o lar. Assim surgiram cães adaptados a diferentes funções.
Foram dois os fatores que tornaram um sucesso a domesticação dos lobos. O primeiro : Os lobos possuem uma organização social muito semelhante à nossa com relações de dominação, submissão e liderança (Facilitando assim obediência e fidelidade) e os lobos possuem um alto grau de neotenia que é a preservação das características comportamentais infantis na fase adulta.
Os lobos evoluiram para se adaptar à vida em conjunto com o homem, assim surgiu o cão. A adaptação ocorre em todas as formas de vida. Estamos todos em constante evolução para irmos acompanhando o mundo. A sociedade humana é o mundo do qual o cão faz parte.
Na lapônia as renas foram domesticadas quando começaram a se aproximar do homem. Elas precisam tanto de sal, que vivem procurando alguém que esteja numa situação, no mínimo, "íntima". E elas não desistem enquanto não matar a sede de sal. A uréia é o elixir das renas. E daí, os lapões domesticaram as renas. Também houve concenso. Não foi uma situação imposta.
Os problemas que ocorrem nos animais domésticos nas grandes cidades é uma falta de orientação sobre os cuidados que um animal necessita, o tempo que ele viverá, as suas peculiaridades. Isto é, algumas pessoas convivem de modo irresponsável com animais de estimação. Não sabem que um filhote fofinho irá destruir os móveis da casa, e outras coisas.
Além disso, a população de animais domésticos de rua causa inúmeros problemas de saúde pública além de proporcionar maus tratos.
A solidão das grandes cidades, a luta pela sobrevivência num mundo cada vez mais competitivo, a falta de tempo, as decepções com seus semelhantes, entre outros fatores, têm levado as pessoas a buscarem nos animais um refúgio para suprir suas carências. Pode se dizer que a convivência do homem com animal doméstico é literalmente o antídoto contra o mal.
O que é necessário é ter a posse responsável. Um compromisso que a pessoa irá conviver com o animal durante todo o seu período natural de vida, tendo total consciência sobre os hábitos desse animal.
Gente e bicho desenvolvem relações afetivas, que muitas vezes não conseguimos entre nós mesmos.
Já é comprovada cientificamente a importância dos animais de estimação nas nossas vidas e nas vidas deles.
Na natureza existem espécies parceiras tais como o peixe palhaço e a anêmona. A Anêmona oferece proteção ao peixe palhaço e em troca, a anêmona se alimenta dos restos de comida do peixe palhaço. Ambos se beneficiam da parceira assim como homem e cachorro por exemplo. O homem fornece ao animal alimento, abrigo e em troca o animal fornece afeto. Quando um cão é acariciado por uma pessoa, a tensão arterial dele diminui.
Seria no mínimo ingratidão considerar nulo todo o benefício para os humanos da convivência com os cães depois de todos os serviços que eles nos prestaram e prestam até hoje. afinal, se os cães não fossem úteis para nós não teriam sido domesticados a princípio. Para o cão, ter um lar, obter alimentação sem grandes esforços e carinho é uma situação bastante confortável.
Os cães desempenham papéis importantíssimos na vida com o homem, um exemplo disso é o cão guia para cegos que os guia não como uma escravidão e sim por amor. Afinal, o cão é o melhor amigo do homem.
Existe um espetáculo teatral franco canadense chamado Cavalia que mostra os benefícios da simbiose homem / cavalo que também é uma parceria muito antiga. A equoterapia mesmo traz inúmeros benefícios.
O chefe Sealth da tribo de índios Duwamish enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos em 1855 dizendo : "O que é o homem sem os animais? Se os animais se forem o homem padecerá de uma grande solidão de espírito pois o que quer que aconteça com os animais também acontece com os homens. Todas as coisas estão conectadas. O que quer que ocorra com a terra, ocorre com os filhos da terra".

Maurício Kanno disse...

andré, vc parece realmente um especialista (ou bem estudioso) no tema. por favor, peço que entre em contato por e-mail q indiquei, ou pelo meu pessoal: mauricio.kanno arroba gmail.com . vamos tb acertar detalhes por fone. está convidado a ser um dos palestrantes-debatedores no grupo de estudos.

vc tanto poderá expor no evento sobre domesticação em si, no 2o semestre (em data ainda a definir) e também no evento sobre mutualismo e policiamento da natureza, no dia 25 de abril, em mesa junto com Hugo Chusyd e Claudio Godoy.

agradeço muito se aceitar. vc tem muito a contribuir sobre o esclarecimento crítico sobre a relação do humano com os outros animais.

Tiago Abreu disse...

Interessante o texto da Cães e Cia.
É preciso salientar que cães ferais e semi-ferais existem desde a associação humano-lupina começou e em todo os lugares onde há humanos, os lobos não foram domesticados e transformados em cães, imagine pegar um predador carnívoro que fatalmente devoraria um humano e forçá-lo a conviver conosco, inviável.
É mais plausível que tenha havido uma convivência comensal, onde ambas as espécies poderiam viver isoladamente, mas juntas podiam mais.
Não só os lobos se adaptaram se tornando cães, nós humanos também mudamos, antes da associação dormir profundamente poderia significar morte, mas com sentinelas dedicados não, nossas espécies se adaptaram e ‘’evoluíram’’ juntas pra viver juntas, mas isso não significa que os cães sejam dependentes do homem, os cães ferais estão ai em praticamente todo o globo como prova disso.
Os lobos/cães facilitaram bastante as caçadas, permitiram que o homem dormir profundamente, alertavam a presença de predadores e inimigos e em troca recebiam alimentação abrigo e proteção em outras palavras vantajoso para ambas as espécies.
O que ocorre é que nos dias de hoje na sociedade dita civilizada corrompeu-se esta nobre relação e o cão de integrante vital a sobrevivência da tribo, passou a ‘’objeto’’ de decoração.
Gosto muito deste assunto, estudo matilhas de cães ferais, tenho cães descendentes de cães ferais e as observações e estudos de tais matilhas e das minhas, me ajuda muito a entender o comportamento natural dos cães e isso é muito útil pra mim como adestrador.